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O Boston Consulting Group consultou as 17 principais empresas de bens de consumo embalados do Brasil

Boston Consulting Group (BCG), empresa global de consultoria, divulgou um relatório chamado Six Strategies for Beating Brazil’s Supply Chain Complexities (seis estratégias para superar as complexidades do supply chain brasileiro, em tradução livre).

Segundo o documento, a vasta geografia, o sistema fiscal complexo e os picos de demanda no final do mês no Brasil criam grandes desafios para as empresas de bens de consumo embalados, que exigem abordagens não convencionais para a gestão da cadeia de suprimentos

O relatório, baseado em um estudo realizado junto às 17 principais empresas de bens de consumo embalados no Brasil, tanto locais quanto multinacionais, constatou que aqueles que combateram as práticas convencionais tiveram maior sucesso no gerenciamento de inventário, contendo os custos de armazenagem e transporte, minimizando os tempos de ciclo do cliente e atingindo altas taxas de arquivamento de casos.

As diferenças entre os melhores e piores executores foram significativas: os níveis de estoque variaram por um fator de 14, os custos de transporte por um fator de 34, e os custos de armazenagem por um fator de 40, por exemplo. “No Brasil, os compromissos padrão da cadeia de suprimentos, como sacrificar serviços por economias de escala ou pagar mais pelo transporte por entrega direta de lojas, não se aplicam sempre”, diz Flávio Magalhães, sócio do BCG e coautor do estudo. “As empresas têm que ser criativas e inovadoras se quiserem conquistar participação de mercado de forma lucrativa”.

Segundo o estudo, o tamanho do Brasil e sua ampla densidade populacional criam um alto grau de fragmentação de canais. Por exemplo, 26% de todos os produtos de beleza e cuidados pessoais são comercializados por meio de vendas diretas, uma porcentagem muito maior do que na maioria dos outros mercados líderes, como os Estados Unidos, a China e a Índia. Os produtos alimentares e as bebidas são vendidos predominantemente por varejistas independentes, que representam cerca de 40% da receita total, ao contrário de outros grandes mercados, nos quais predominam os grandes varejistas.

“Empresas de bens de consumo que vendem principalmente por vendas diretas ou entrega direta da loja enfrentam custos e níveis de inventário mais elevados. Entre os canais de vendas altamente fragmentados e as vastas áreas geográficas a serem cobertas, é difícil conseguir economias de escala”, ressalta Flávia Takey, diretora da BCG e coautora do relatório.

Os regimes fiscais nos 26 estados do Brasil variam muito e são complexos. As tarifas dependem não apenas da categoria dos bens, mas também da origem e do destino. Além disso, as taxas cambiais mudam frequentemente, em parte porque os impostos sobre o movimento de mercadorias são uma fonte crítica de receitas para os governos estaduais.

Por exemplo, uma empresa de São Paulo enviando seu produto para o Rio de Janeiro pagaria cerca de 12% em imposto de valor agregado, mas se o estado de destino fosse Goiás, o imposto seria de apenas 7%. Para as empresas de bens de consumo embalados, os impostos representam uma parcela muito maior dos custos do que a logística. Como resultado, eles têm um impacto maior que o normal na otimização de redes no Brasil, criando ineficiências e exigindo frequentes redesenhos.

A demanda por produtos é altamente concentrada no final do mês, em grande parte por causa dos incentivos de vendas que as equipes oferecem aos seus clientes para cumprir metas mensais. Essa concentração de demanda geralmente causa excesso de estoque, grandes flutuações na utilização do armazém e altos custos de transporte.

O relatório descreve seis estratégias abrangentes para superar os obstáculos da cadeia de supply chain do Brasil. São elas: buscar simplicidade no portfólio, segmentar a cadeia de abastecimento, ganhar agilidade integrando planejamento de vendas e operações, deixar a cadeia de abastecimento mais flexível e colaborar com os varejistas, os pares da indústria e os provedores de logística terceirizados para gerar valor agregado e manter-se focado na excelência operacional.

Dentre a amostra total os autores identificaram economias de até 20% nos custos totais da cadeia de suprimentos e de até 20% na redução do estoque, que poderiam resultar dessas estratégias. Qualquer estratégia individual proporcionará melhorias, afirma o relatório, mas o sucesso sustentável requer a aplicação dessas estratégias em combinação. Empresas de bens de consumo embalados de qualquer tamanho podem atingir maiores níveis de serviço sem prejudicar a rentabilidade. “Qualquer empresa que possa enfrentar esses tempos difíceis e agir além das simples medidas de redução de custos estará melhor posicionada para vencer no longo prazo”, diz Magalhães.